quinta-feira, 15 de março de 2012


Anoitecer

Quando me atravessaste os dias trazias contigo o fôlego de uma vida nova. Era Primavera e os dias eram chuvosos mas iam ficando mais compridos. Prolongava-se a demora da luz nas horas. E tu não tardaste a demorar-te. Primeiro nos passos, que atrasavas. Depois nas palavras, que se alargavam. Depois nos gestos, que se repetiam. Foi quando encontraste os meus olhos que disseste que estavas perdido e eu te ofereci um mapa. E ao mesmo tempo que as horas se iam gastando, como se o tempo não existisse e a barreira entre a luz do dia e o brilho da noite fosse apenas imaginária, fomos perdendo o medo de demorar cada vez mais um pouco. Naquele tempo as estrelas no firmamento contavam histórias. Demoravas-te. Demorávamos. Demorámos talvez tempo demais. Ficou só a noite. Ou foi o tempo que atrasou o passo.